Escolas Vivas - Le Monde Diplomatique Edição Portuguesa
O efeito de ilha de calor, causado pela urbanização densa e pela falta de vegetação, torna a cidade vulnerável às ondas de calor, o que afecta desproporcionalmente as populações mais vulneráveis, como idosos e crianças. Em muitos bairros de Lisboa também há falta de espaços para o convívio social, o que limita as interacções entre os residentes. Adicionalmente, o aumento dos preços de arrendamento empurra para fora as pequenas associações que historicamente têm desempenhado um papel vital na construção de um tecido social coeso.
As escolas são equipamentos públicos que, contabilizando fins-de-semana, férias escolares e horários pós-laborais, se encontram fechados quase metade do ano. Durante esses períodos, estes espaços podem ser utilizados para acolher eventos culturais, reuniões de bairro, mas também criar refúgios climáticos em tempos de calor extremo, aproveitando assim para melhorar os recreios escolares, onde sombras e contacto com a natureza são frequentemente escassos. A implementação desta solução permite optimizar infra-estruturas já existentes, melhorando simultaneamente a vida comunitária e ambiental de Lisboa. No entanto, é importante referir que apenas serve como medida imediata e urgente, visto ser necessário pensar em garantir que estas associações consigam ter e permanecer no seu próprio espaço, com sustentabilidade financeira.
Com quase 200 escolas públicas ou com apoio público (IPSS) distribuídas por Lisboa, aproximadamente 38% da população da cidade vive a menos de cinco minutos a pé de uma destas escolas, enquanto 89% reside a dez minutos de distância. Essa distribuição demonstra a acessibilidade que essas infra-estruturas oferecem à comunidade local e reforça o potencial desta iniciativa em aproveitar essas localizações para abranger praticamente toda a população num espaço de até quinze minutos a pé.
Criando um novo programa municipal intitulado Escolas Vivas, podemos transformar os pátios e infra-estruturas escolares em centros comunitários multifuncionais. Esta solução tem como base a intermitência no uso do espaço, já que as escolas estão inactivas durante grande parte do dia. O conceito insere-se num novo paradigma de concepção do que é um espaço público quando introduzimos a variável do tempo. Tradicionalmente, um espaço é considerado público ou privado com base na sua propriedade e/ou disponibilidade de acesso ao público, sem considerar a sua utilização ao longo do dia ou do ano. No entanto, ao adicionarmos a dimensão temporal, podemos repensar a sua função, maximizando a sua utilização em horários diferentes e convertendo as escolas em bens comuns que servem a comunidade de forma flexível. Com esta nova dimensão, vários são os espaços que podemos repensar como espaço público num certo período e horário do dia, sendo as escolas um desses exemplos, mas também as universidades ou museus, entre outros.
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O artigo é um resumo da minha tese de Mestrado em Urbanismo Próximo do IAAC (Institute for Advanced Architecture of Catalonia) Em Barcelona. Para descarregar e ler a tese completa em Castelhano podes clicar no link abaixo: